quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Cálice (Cale-se)



música do Chico Buarque, censurada na década de 70 pela ditadura militar.
sem comentários pra interpretação da Bethânia...
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Como beber
Dessa bebida amarga?
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio, na cidade não se escuta

De que me vale
Ser filho da santa?
Melhor seria ser... filho da outra
Outra realidade, menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta...

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite, eu me dano
Quero lançar um grito desumano
que é uma maneira de ser escutado

Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado, eu permaneço atento
Na arquibancada, prá a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa...

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...

De muito gorda a porca já não anda

De muito usada a faca já não corta

Como é difícil, pai, abrir a porta

Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo

De que adianta ter boa vontade?
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade...

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...

Talvez o mundo
Não seja pequeno

Nem seja a vida
Um fato consumado

Quero inventar
O meu próprio pecado

Quero morrer
Do meu próprio veneno

Quero perder de vez
Tua cabeça

Minha cabeça
Perder teu juízo

Quero cheirar fumaça
De óleo diesel

Me embriagar
Até que alguém me esqueça
(Cálice!)

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