segunda-feira, 11 de agosto de 2008

não sei de quem

"Não existe mais lugar para o sofrimento. Cada sentimento desagradável vivenciado vem praticamente acoplado de um psicofármaco que neutraliza seus efeitos. Na pós-modernidade a fuga é regra básica. Não existe mais lugar para a confrontação consigo mesmo e com os outros. Na sociedade do consumo os valores são outros. Individualidade. Superficialidade. Imediatismo. Narcisismo. É no universo da imagem que esses valores são transmitidos e fomentados. Somente no inebriamento tóxico é possível fugir da solidão de si mesmo, sentindo-se, mesmo que anestesiado, pertencente ao show.
O teatro do dia-a-dia, do amor próprio, da ironia e da superficialidade mascarados em compaixão e bondade. A eterna busca... pelo carro do ano, pelo emprego que dá mais dinheiro, pela mulher mais cobiçada, por saúde. A busca pelo inalcançável, pelo difícil encontro com si mesmo. O consumo pelo consumo, esvaziado de sentido e necessidade.
O consumo pelo prazer de consumir, pelo prazer do “empoderamento”, pelo prazer supérfluo que se esvai no segundo seguinte. Os contatos pessoais marcadamente superficiais beiram o insuportável, muito embora as pessoas não percebam isso. É na individualidade e no narcisismo que se constroem a solidão nefasta e o isolamento doentio. Não existe mais lugar para o sofrimento. É na fluoxetina que se encontra o alívio para as dores da alma. Não é permitido sofrer, na sociedade do espetáculo é tudo artificialmente colorido e sorridente.
Por trás do palco é que se inscrevem a podridão e o sofrimento, mascarados pela persona de palhaço, a única socialmente desejável atualmente. A falta de alternativas subjetivas perante a vida camuflada pelo sorriso falso e pelo caótico estar bem. “Estar bem” e nem ao menos perceber o abismo que se encontra, esperando um soprar mais forte de vento para despencar..."

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